“Presença” Carla Chaim. Curadoria Gabriel Bogossian

“Presença” Carla Chaim. Curadoria Gabriel Bogossian
zweiarts

Em torno de Presença, de Carla Chaim. 

por Gabriel Bogossian

Em Presença, o trabalho desenvolvido por Carla Chaim toma como ponto de partida para sua elaboração o próprio lugar onde a exposição acontece. Aqui, como em obras recentes da artista, o espaço expositivo é abordado como matéria prima para o desenvolvimento de reflexões sobre o desenho, considerado desde seus aspectos materiais até seus desdobramentos no espaço como instrumento de reflexão e investigação do mundo.

Criadas a partir de elementos arquitetônicos da Casa Nova, as fotos, esculturas e o vídeo de Presença exploram – de modo ora lúdico, ora analítico – o espaço da casa que os recebe. Apropriando-se de fragmentos da arquitetura, as obras o reelaboram e, através de deslocamentos e espelhamentos, reorganizam a percepção física que temos dele.

No cotidiano, nossa escala de percepção do espaço costuma ser a da cidade; é nela que estão reunidos os lugares menores (casas, escritórios, galerias de arte) onde a vida de fato se desenrola. É portanto a expressão espacial do desenho – no traçado urbano, na arquitetura das casas – que define o lugar dos objetos e dos corpos, limita e orienta seus comportamentos.

Em Presença, esse aspecto estruturante do desenho é descartado em favor de uma abordagem negativa do gesto de desenhar. Seja no conjunto de fotografias, onde o corpo age nos intervalos do espaço vazio; no vídeo, onde uma espécie de desenho espacial à mão livre se desenrola e se desvanece na sala; ou nas peças tridimensionais, duplos em preto de elementos decorativos, estruturais e estilísticos da arquitetura, as obras acessam o desenho arquitetônico (mas poderíamos dizer também: as formas presentes no espaço) a partir de seu negativo. Como oriundas de um mundo carrolliano, elas fracionam e refletem o mundo real, criando sobreposições que parecem ser capazes de dobrar e desdobrar o espaço.

A montagem da exposição, ao aproximar os tridimensionais e fotografias e exibindo o vídeo na sala onde foi gravado, potencializa o aspecto reflexivo dessas operações de desconstrução e reconstrução espacial. Por meio dessa exploração negativa, Carla Chaim reorganiza o espaço expositivo e desarticula sua naturalidade: decalcadas da casa, as obras a espelham e se misturam de novo a ela, fazendo com que, de um modo inesperado, o espaço torne-se visível como que pela primeira vez.

O projeto Presença foi desenvolvido como um site specific para o espaço da Casa Nova. Nele, um conjunto esculturas, fotografias e um vídeo ocupam os espaços do térreo, em um diálogo com a arquitetura do lugar.

Cada escultura reproduz um elemento chave da arquitetura: o piso e a coluna, da varanda de entrada, e o tampo da lareira na sala. Deslocadas no espaço como negativos dos elementos reais, elas exploram esses fragmentos arquitetônicos despidos de suas funções decorativas ou estruturais.

As fotos e o vídeo, por seu lado, também exploram fragmentos da Casa. Neles, contudo, trata-se de intervir com o corpo sobre os espaços vagos e os intervalos, que têm assim seu significado visual e espacial alterado. Desse modo, escultura e corpo se equivalem no gesto de explorar as brechas nos limites impostos pela arquitetura.

Enquanto modos de abordar o espaço, as obras apontam para novas formas de relação com ele, alterando percepções de tempo, escala, volume, superfície e cor. Em um diálogo com (ou sobre) o desenho arquitetônico, o gesto de seleção de elementos e espaços da Casa revela a identidade do lugar, tanto a partir de seus aspectos estéticos (a forma curva da varanda de entrada, que ecoa a varanda de cima) quanto dos estruturais ou decorativos: aqui, a Casa se torna visível para si mesma.

Carla Chaim é formada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, 2004, onde também realizou a Pós-graduação em História da Arte, 2007. A artista trabalha diferentes mídias como desenho, escultura, vídeo e instalação. Chaim tenta se aproximar de uma ampla escala de assuntos cotidianos, trazendo-os para seu atelier e repensando novas formas e novas relações. A artista tem o desejo de controlar seus trabalhos, tanto em regras pré-estabelecidas na execução, quanto de seus movimentos físicos durante a feitura de um desenho, trazendo o corpo como importante instrumento neste processo, também pensando-o como local de discussão conceitual explorando seus limites físicos e sociais. A artista não trabalha pensando no resultado final. O que lhe interessa são os movimentos, passos e processos de cada trabalho. Carla define regras e parâmetros e segue com eles até o final. Os trabalhos de Chaim não contam histórias, elas são o próprio fazer, combinando sistemas dicotômicos: regras rígidas e movimentos físicos orgânicos.

Carla Chaim recebeu diversos prêmios como em 2015 o Prêmio CCBB Contemporâneo, e o Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, ambos no Rio de Janeiro e, em São Paulo, em anos anteriores, o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea e Prêmio Energias na Arte, no Instituto Tomie Ohtake, onde participou também das exposições “Os primeiros dez anos”, 2011, e “Correspondências”, 2013.

Participou de residências artísticas como: Arteles, Finlândia, 2013; Halka Sanat Projesi, Turquia, 2012; The Banff Centre for the Arts, Canadá, 2010. Fez, em 2014, sua primeira individual em Lisboa, Portugal, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, e participou de exposições como “Afinidades”, no Instituto Tomie Ohtake, e “Entre dois mundos”, no Museu Afro-Brasil, em São Paulo, Brasil. Sua obra faz parte de coleções como Ella Fontanals-Cisneros, Miami, EUA; Museu de Arte do Rio – MAR, RJ, Brasil; e Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, Brasília, Brasil. A Galeria Raquel Arnaud, que representa a artista desde 2012, apresentou a exposição individual “Pesar do Peso” em 2014.

Gabriel Bogossian é curador independente, editor e escreve textos críticos. Já trabalhou como tradutor das editoras Hedra, em 2008, e Rocco, em 2011, foi curador da exposição Ensaio para a Loucura, de Gui Mohallem, no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), em 2011, editor para a Red Bull House of Art, em 2013, pesquisador do festival Videobrasil, em 2014, e curador do festival de perfomance Transperformance 3: Corpo Estranho, em 2014. Foi curador da exposição Cruzeiro do Sul, realizado no Paço das Artes, em 2015.

em parceria com

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fotografia: Ding Musa

Abertura 12 de Dezembro 2015. das 16:00 as 20:00

Exposição até Fevereiro 2016