“Concreto Contínuo” GIAN SPINA

“Concreto Contínuo” GIAN SPINA
zweiarts

No Sábado, dia 24 de Março, temos o prazer de apresentar a primeira individual do Paulistado Gian Spina. Na exposição “Concreto Contínuo” o artista contempla diversas mídias como vídeo, performance, instalação e a sua atividade como escritor e poeta, mostrando o lado multifacetado do artista. Spina desenvolve sua prática em torno da investigação de construções narrativas e das representações da história e da memória. Para esta exposição, que conta com a curadoria de Juliana Caffé, o artista produziu uma série de obras que buscam refletir sobre as representações da memória no espaço público, a historiografia apologética na qual se fundam e o que elas suscitam no imaginário social.

“Concreto Contínuo” por Juliana Caffé

A paisagem urbana abriga uma dimensão espacial da história. Paulo Mendes da Rocha afirma, “a cidade é uma mentalidade e um pensamento” . Entre os elementos da paisagem, há aqueles politicamente concebidos para transmitir memória. Estes, imbuídos de valores passados, persistem no presente determinados a memorar continuamente seus princípios, transformam-se em dispositivos de subjetivação voltados à comunidade. Como todo espaço de memória, esses elementos tornam-se campo de disputa e resistência, testemunham o conjunto vivo de relações sociais historicamente compartilhadas por membros de uma sociedade.

Na tensão entre recursos narrativos e audiovisuais, Gian Spina subverte representações da memória no espaço público e evidencia a brutalidade e incoerência de figuras incorporadas e naturalizadas na paisagem urbana. Todos os trabalhos presentes na exposição partem da pesquisa do artista em torno da historiografia apologética que sustenta políticas simbólicas, exercidas por autoridades públicas para fabricar imagens idealizadas e/ou consensuais de ordem nacional. A cada obra, Spina nos relembra a função ideológica desses mitos, forjados para sustentar poder, ao passo que instrumentalizam silêncios e esquecimentos.

Como um prelúdio, em Spomenik, o artista declama seu encontro com um monumento público iugoslavo isolado na região da Macedônia. Apresenta devaneios poéticos sobre os modos do poder se pretender perpétuo a partir da matéria. Alguns passos adiante, somos levados a uma sucessão de monumentos tombados e contestados em cidades como Raqqa, Moscou, Cidade do Cabo, Escópia, Baghdad, Paris e outras. Em Tombamento, a partir de registros captados na internet, Spina costura pequenas tramas narrativas que envolvem a presença conflituosa de representações simbólicas, remetendo-nos ao caráter volante e sempre inacabado da história. Estas obras, refletem a natureza itinerante de sua prática artística, que periodicamente investiga e experimenta de forma imersiva diferentes lugares do mundo.

Um gesto de transgressão irrompe no centro da galeria.

Um corpo interage com uma alegoria urbana, adiciona um novo elemento ao seu significado. Spina volta as atenções para São Paulo, sua cidade natal, onde o elogio à praticas coloniais perversas é sustentado pela sociedade em monumentos e memoriais. Prosseguimos, recortes e aproximações de imagem salientam a incorporação celebratória e naturalizada da figura do bandeirante. Ao lado, homenagens presentes no cotidiano da urbe – desde objetos, panfletos, até imagens captadas pelo Google Street View – são reunidas por Spina e contraditas pelos relatos sanguinolentos de Montoya. Esses elementos, raramente contextualizados na cidade, são combinados na exposição com perspectivas contrárias, nos remetendo à mentalidade colonial arraigada do brasileiro, eivada de exploração e violência. Aqui o artista esquadrinha o caráter delinquente dos heróis paulistas, a dissimulação narrativa dos monumentos oficiais, e escrutiniza o colonialismo resiliente que o nosso Concreto Contínuo revela sobre nós.

[1] Mendes da Rocha, P. Cidade das Ideias. Ideas City. São Paulo. São Paulo: Edições Sesc São Paulo e New Museum; 2017. p. 27.

Agradecimentos: André Guazzelli, Beatriz Freitas, Celso Ferro, Giuliano Spina, Helena Wolfenson, Isabel Wolfenson, Julio Yasbek, Lucas Girard, Marcel Arruda, Marina Lima, Nicolino Spina.

 

GIAN SPINA

Nasceu em São Paulo; viveu, estudou e trabalhou em San Diego, Vancouver, Bordeaux, Berlim Frankfurt e Ramallah. Seu trabalho prático se define como a construção de narrativas a partir de práticas interdisciplinares que se desenvolvem em cadeia, onde um gesto leva a outro até que a formação da história se concretize . Sua primeira formação se iniciou em 2002, com a fotografia no Instituto Senac em São Paulo. Seguiu-se então a formação em Cinema em Vancouver com o professor Roy Hunter, de 2005 a 2006 complementada com o curso de Teoria do Cinema com o Prof. Carlos Augusto Calil na USP. De de 2007 a 2008 arquitetura na Escola da Cidade. Em 2010 na Alemanha, estudou com o Prof. Sigfried Zielinski no Vilem Flusser Archive na Universidade de Artes de Berlim e com a Prof. Ulrike Gabriel e a Prof. Juliane Rebentisch na Academia de Artes e Design em Offenbach am Main, na Alemanha, onde recebeu a bolsa de estudo pelo Rotary-Club da cidade (2011). Terminou seu mestrado orientado pelo filósofo e professor Fabien Vallos na Escola de Belas Artes de Bordeaux. Atualmente, trabalha como professor na academia internacional de artes da Palestina. Gian Spina atravessou os Balkans e a Ásia Central de bicicleta, a Cisjordânia e o Himalaia a pé. Fala fluentemente alemão, inglês, espanhol, francês e português. Participou de exposições em diversos países e distintos contextos; entre elas o programa de exposições individuais do CCSP de 2016. Em 2016 foi selecionado para o Programa de Residências do Capacete que acontecerá junto a Documenta em Athenas (2017).

 

Juliana Caffé

Curadora, editora e pesquisadora. Possui especialização em Curadoria pela University of Cape Town – UCT (África do Sul), e em Arte: História, Crítica e Curadoria pela Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da PUCSP; bem como bacharelado em Direito pela mesma universidade. Integrou a equipe da Associação Cultural Videobrasil entre 2013 e 2017, onde trabalhou na programação das exposições e demais atividades do Galpão VB. Em 2017 foi selecionada para participar do seminário intensivo do Independent Curators International (ICI) em Acra, Gana. Entre os trabalhos de curadoria destacam-se: a Residência Artística Cambridge, voltado ao desenvolvimento de propostas artísticas e culturais na Ocupação Hotel Cambridge, projeto recipiente do Prêmio APCA 2016 na categoria ‘apropriação urbana’; o Seminário: Pensar a América Latina | Panorama Político e Cultural no Galpão VB (São Paulo, Fev/Mar de 2017); a exposição How to Remain Silent? na A4 Arts Foundation (Cidade do Cabo, Out/Nov de 2017); e o projeto Conversas em Gondwana, plataforma de pesquisa, experimentação e estudos em arte contemporânea entre África e América do Sul. Recentemente recebeu o prêmio Temporada de Projetos 2018 para realizar a exposição Do Silêncio à Memória no Paço das Artes.

Serviço:

Abertura: Sábado, 24 de Março 2018. – Das 11 às 19 horas.

“Concreto Contínuo” Individual Gian Spina

curadoria: Juliana Caffé

Visitação: de 24 de Marco até 21 de Abril de 2018 .

Rua Chabad, 61. Jardim Paulista. São Paulo.

De Terça-feira à Sábado das 12:00 às 18:00 horas

Entrada livre.