Lorem Ipsum / objetos nunca morrem

Lorem Ipsum / objetos nunca morrem
Adriano Casanova

Lorem Ipsum  / objetos nunca morrem

 

Alexandre Brandão, Alice Quaresma, Alvaro Seixas, Alexandre Canônico, Ana Clara Tito, Ana Prata, Ana Raylander Mártis dos Anjos, Artur Lescher, Bruno Baptistelli, Campana, Claudia Jaguaribe, Dan Coopey, Daniel Acosta, Detanico Lain, Douglas de Souza, Emmanuel Nassar, Erica Storer, Fabio Tremonte, Felícia Leirner, Felipe Cohen, Flavia Vieira, Hugo Rodrigues, iah bahia, Ignacio Gatica, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Jorge Zalszupin, João Loureiro, Kauê Garcia, Keila Alaver, Leda Catunda, Lenora de Barros, Lina Kim, Lina Bo Bardi, Luiza Crosman, Marilá Dardot, Maíra Dietrich, Manuela Medeiros, Marina Weffort, Marcelo Cidade, Mestre Nicola, Michael Wesely, Milton Machado, Mônica Nador + Jamac, Pedro Tudela, Pedro Caetano, Rafael Alonso, Rejane Cantoni, Renata Padovan, Rodrigo Garcia Dutra, Rommulo Vieira Conceição, Ruy Teixeira, Santiago Reyes Villaveces, Sérgio Rodrigues, Sofia Caesar, Tainan Cabral, Toby Christian, Vijai Maia Patchineelam, Vitor Cesar, Victor Leguy, Zanine Caldas.

Curadoria
Beto Shwafaty

 

Abertura 08 de Junho de 2024

Das 12 às 18 horas

Exposição C.A.M.A – de 08 de Junho à 20 de Julho 2024

Exposição Verniz – de 08 de Junho à 08 Julho 2024

C.A.M.A. – Rua Barra Funda, 897. Barra Funda

Verniz – Rua Lopes Chaves, 243. Barra Funda

 

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Lorem Ipsum[1] / objetos nunca morrem explora relações entre as esferas da arte e do design que permeiam diversas produções culturais, e cujas sobreposições impactam cada vez mais a vida quotidiana.  A exposição parte de alguns marcos históricos e culturais nos quais podemos perceber relações estreitas: seja no readymade, no objeto surrealista, no construtivismo ou na bauhaus quanto nas correntes do design moderno, radical e experimental que surgiriam no decorrer do século XX, entre todos esses observamos relações que atravessam e informam a própria história cultural e material de nosso tempo.

O foco desta exposição parte de uma constelação de artistas presentes no projeto C.A.M.A. e outros artistas externos ao projeto, para estabelecer diálogos recíprocos com peças de design pertencentes à loja-galeria Verniz, que desenvolve um amplo trabalho de pesquisa e recuperação do design brasileiro – tanto aquele consagrado e autoral quanto o anônimo e popular. A intenção é criar aproximações e permitir leituras sobre as diversas perspectivas acerca do status híbrido em que se encerram os objetos e imagens contemporâneos, um status intrínseco à própria experiência sociocultural que fruimos hoje.Pois, tanto a arte quanto o design atuam como eixos que produzem a valorização dos objetos que participam da produção de identidades próprias e localizadas.

A zona híbrida e cinza que se cria entre arte e design surge de suas origens congêneres nas vanguardas, e hoje oscila entre as potências de valor e uso. Assim, os objetos produzidos pelas sociedades nunca morrem: possuem uma vida cíclica, que nem sempre é benéfica para todos, mas que mesmo assim migram e transformam-se através dos contextos que atravessam: peças criadas manualmente, produzidas industrialmente e distribuídas imaterialmente são expostas, consumidas, visitadas, descartadas, recolhidas e reanimadas. O contexto histórico original no qual surgem os objetos se dilui no tempo e se contaminam, sujeitos a tornarem-se índices de cobiça ou desejo, ao mesmo tempo que apontam para inovações e quiçá, possíveis micro revoluções. Esses objetos – técnicos, precários, avançados ou rudimentares – carregam em si as convenções culturais e econômicas de seu tempo ao mesmo passo que tentam apontar para a promessa de melhores futuros. Os objetos nunca morrem pois os mecanismos econômicos e agentes socioculturais os ressignificam, num eterno jogo de formas, funções e identidades.

Delineei um horizonte conceitual que abarca desde os artefatos populares de aparência colonial, passando por objetos artesanais (sejam os trocados, achados ou construídos) até os objetos técnicos e reproduzíveis em escala industrial. Tal horizonte define um pequeno recorte que nos permite observar como a arte e o design recuperam e instauram novas propostas culturais que sempre surgem aliada às novas indústrias, definindo momentaneamente valores e regras que, ao surgirem, já enfrentam os desafios em lidar com os contragolpes das revoluções de cunho industrial, moderna e informacional: os efeitos nem sempre benéficos da serialização, da compartimentação, da racionalização e da desmaterialização. Entre tensões de liberdade e disciplina, arte e design são assumidos e vistos aqui como metáforas culturais[2], tornam-se índices das complexas dinâmicas de seu próprio tempo e espaço.

É a partir dessas chaves que a exposição se desdobra, para conectar diversos artistas e designers em suas variadas estratégias frente aos objetos, assumindo-os como ícones a serem questionados, matéria a ser transmutada, símbolos a serem deslocados, elementos a serem recombinados, peças a serem desmontadas e, até mesmo, destruídas e refeitas. Mobiliários oriundos de vários modernismos, artefatos populares, móveis que estão sendo recuperados, design contemporâneo e obras de arte produzidas com emprego de diversas linguagens compõem nichos, sets, instalações e novos contextos que estabelecem diálogos tensionadores do status, da função, da estética, da forma e da matéria que compõe aquilo que nos rodeia, gerando processos de reflexão para ativar, esperamos, uma nova leitura sobre os elementos que compõem nossa paisagem contemporânea. Sejam objetos estritamente funcionais ou obras de arte, é por meio do trabalho humano, da criação, apropriação, citação, transformação, fabricação e circulação – constantes e recorrentes – que os significados das coisas migram, mudam, e se tornam outras.

Beto Shwafaty, 2024.

[1] Palavra que se refere ao texto de preenchimento colocado em um documento ou apresentação visual. Lorem ipsum é derivado do latim “dolorem ipsum”, traduzido aproximadamente como “a própria dor”. O termo apresenta um exemplo de fonte e orientação de escrita em páginas da web e outros aplicativos de software onde o conteúdo não é a principal preocupação do desenvolvedor, mas sim questões estéticas e formais que também comunicam. A forma passa aqui a ter um status tão eloquente quanto o conteúdo, o meio torna-se mensagem, forma, arte, matéria cultura e design.

 

[2] Ideia do designer italiano Ettore Sottsass em diversos momentos de sua carreira como designer, seja para a empresa Olivetti como durante o período de envolvimento do grupo Memphis. Para Sottsass, o design vai além de executar belos produtos e formas, ele manifesta a síntese e a metáfora do pensamento e da matéria de um tempo e lugar, torna-se participante da produção de uma cultura e seus valores, e assim, uma metáfora cultural.